quinta-feira, fevereiro 28, 2013

O CÈREBRO EM MUDANÇA NA ERA DA INFORMAÇÂO


Realizou-se ontem, na nossa Biblioteca, a palestra subordinada ao tema O Cérebro em Mudança na Era da Informação, a cargo da Drª Teresa Silveira, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Tendo como base o estudo que realizou acerca do comportamento leitor de adolescentes do Norte de Portugal, esta investigadora procurou perceber até que ponto os novos contextos tecnológicos têm impacto no desenvolvimento da "arquitetura cerebral" para a leitura, sobretudo do tipo contemplativa. Nos seus estudos analisa a importância da leitura nos primeiros níveis de escolaridade, demonstrando os mecanismos fisiológicos desencadeados no cérebro pela prática da leitura.

Ao longo de mais de uma hora e meia, a audiência, composta por professores e alunos pôde ouvir a exposição e colocar questões que a temática suscitou. Foi possível esclarecer alguns dos comportamentos dos jovens de hoje, que dedicam diversas horas do seu dia a interagir com um ecrã, conversando em chats, publicando em blogs, participando nas redes sociais, vendo vídeos e ouvindo música ou simplesmente saltando de página em página à procura de alguma informação ou de algo que lhes interessa. Esta tendência para que o estudo aponta, mostra que os jovens têm novos hábitos de lazer que estão a condicionar a prática leitora.
Chamou a atenção para algumas ideias fundamentais:
A competência leitora é o resultado de um processo de aprendizagem contínuo no qual o cérebro assume o papel central.
A competência de ler é o resultado de um processo de aprendizagem contínuo no qual o cérebro assume o papel central. Os primeiros 8/10 anos de vida são fundamentais. Trata-se de um período no qual, com facilidade e rapidez, se adquirem, moldam ou se alteram determinados sistemas internos de acção.
O desenvolvimento do cérebro leitor está intimamente relacionado com a repetição da acção ou com a carga emotiva a ela associada. A repetição é assim um processo intrínseco essencial para formar rotinas de acção e torna-la verdadeiramente eficiente.
A plasticidade neural permite ao cérebro organizar-se e aprender ao longo da vida, não possibilita, no entanto, activar áreas cerebrais específicas para desenvolver acções particulares como ler, escrever e contar que não o tenham sido durante os períodos sensíveis, nomeadamente nos primeiros anos de vida de uma criança.
Em termos práticos parece claro que o cérebro humano tem timings muito limitados para desenhar e desenvolver toda a arquitectura que permitirá fazer do acto leitor uma prática intrínseca, natural e fluída, ou seja, a base para a aquisição e desenvolvimento das competências informacionais. O “cérebro malabarista”, capaz de acolher e de atender aos vários estímulos em simultâneo, mas cada vez mais incompatível com actividades como a leitora, cujo gozo e a compensação derivam da capacidade de ultrapassar a natureza de alerta do cérebro, isolando-o unicamente para a actividade leitora, tornando-se esta o estímulo em si mesmo.
Neste contexto o papel dos mediadores de leitura em contexto escolar – professores ou bibliotecas – assume um lugar cada vez mais importante na compreensão das novas realidades, na promoção de hábitos de leitura e na resposta aos novos desafios que se colocam com as novas tecnologias e a atração que representam para os mais jovens, “nativos digitais”
A sessão revelou-se um momento particularmente rico não apenas pelo entusiasmo, clareza e solidez da abordagem da oradora mas também pela relevância que a temática tem para os presentes, nos tempos atuais. 


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