Realizou-se ontem, na nossa Biblioteca, a palestra
subordinada ao tema O Cérebro em Mudança na Era da Informação, a cargo da Drª
Teresa Silveira, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Tendo
como base o estudo que realizou acerca do comportamento leitor de adolescentes
do Norte de Portugal, esta investigadora procurou perceber até que ponto os
novos contextos tecnológicos têm impacto no desenvolvimento da
"arquitetura cerebral" para a leitura, sobretudo do tipo
contemplativa. Nos seus estudos analisa a importância da leitura nos primeiros
níveis de escolaridade, demonstrando os mecanismos fisiológicos desencadeados
no cérebro pela prática da leitura.
Ao longo de mais de uma hora e meia, a audiência,
composta por professores e alunos pôde ouvir a exposição e colocar questões que
a temática suscitou. Foi possível esclarecer alguns dos comportamentos dos
jovens de hoje, que dedicam diversas horas do seu dia a interagir com um ecrã,
conversando em chats, publicando em blogs, participando nas redes sociais,
vendo vídeos e ouvindo música ou simplesmente saltando de página em página à
procura de alguma informação ou de algo que lhes interessa. Esta tendência para
que o estudo aponta, mostra que os jovens têm novos hábitos de lazer que estão
a condicionar a prática leitora.
Chamou a atenção para algumas ideias fundamentais:
A competência leitora é o resultado de um processo
de aprendizagem contínuo no qual o cérebro assume o papel central.
A competência de ler é o resultado de um processo
de aprendizagem contínuo no qual o cérebro assume o papel central. Os primeiros
8/10 anos de vida são fundamentais. Trata-se de um período no qual, com
facilidade e rapidez, se adquirem, moldam ou se alteram determinados sistemas
internos de acção.
O desenvolvimento do cérebro leitor está
intimamente relacionado com a repetição da acção ou com a carga emotiva a ela
associada. A repetição é assim um processo intrínseco essencial para formar
rotinas de acção e torna-la verdadeiramente eficiente.
A plasticidade neural permite ao cérebro organizar-se
e aprender ao longo da vida, não possibilita, no entanto, activar áreas cerebrais
específicas para desenvolver acções particulares como ler, escrever e contar que
não o tenham sido durante os períodos sensíveis, nomeadamente nos primeiros
anos de vida de uma criança.
Em termos práticos parece claro que o cérebro
humano tem timings muito limitados para desenhar e desenvolver toda a arquitectura
que permitirá fazer do acto leitor uma prática intrínseca, natural e fluída, ou
seja, a base para a aquisição e desenvolvimento das competências informacionais.
O “cérebro malabarista”, capaz de acolher e de atender aos vários estímulos em
simultâneo, mas cada vez mais incompatível com actividades como a leitora, cujo
gozo e a compensação derivam da capacidade de ultrapassar a natureza de alerta
do cérebro, isolando-o unicamente para a actividade leitora, tornando-se esta o
estímulo em si mesmo.
Neste contexto o papel dos mediadores de leitura em
contexto escolar – professores ou bibliotecas – assume um lugar cada vez mais
importante na compreensão das novas realidades, na promoção de hábitos de
leitura e na resposta aos novos desafios que se colocam com as novas
tecnologias e a atração que representam para os mais jovens, “nativos digitais”
A sessão revelou-se um momento particularmente rico
não apenas pelo entusiasmo, clareza e solidez da abordagem da oradora mas
também pela relevância que a temática tem para os presentes, nos tempos atuais.