O poeta António Ramos Rosa morreu hoje, 23 de setembro, ao início da tarde.
Vencedor do Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa é um exemplo de entrega radical à escrita como talvez não haja outro na poesia portuguesa do século XX.
Poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Faro, em 1924. A sua obra poética, iniciada em 1958 com a publicação de O Grito Claro, abarca quase 80 títulos, não contando já com antologias, compilações e livros escritos a meia com outros autores.
Não Posso Adiar o Amor
Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 
Não posso adiar este abraço 
que é uma arma de dois gumes 
amor e ódio 
Não posso adiar 
ainda que a noite pese séculos sobre as costas 
e a aurora indecisa demore 
não posso adiar para outro século a minha vida 
nem o rneu amor 
nem o meu grito de libertação 
Não posso adiar o coração 
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"

